terça-feira, janeiro 19, 2010

O que os olhos vêem.


Certa vez, o amor precisou fazer uma reunião com os outros sentimentos.
E então, um por um foi convocado para que sentassem junto a ele.
A pressa foi a primeira a chegar, depois me vem a esperança.
Vem de mansinho a fé, a coragem entra pela porta sem bater.
A loucura vem ultrapassando a coragem, a calma avista-se de longe pela abertura da porta.
A paixão vem fervendo, procurando logo o seu lugar à mesa. O carinho, de mansinho, puxou uma cadeira para a paixão.
Antes que o amor falasse algo, começou aquela farra!
Todos eles falando juntos ao mesmo tempo, tentando se explicar.
Se auto-descrever.
E então, a cautela abre a porta de mansinho, e suavemente diz: o amor precisa de nada mais do que minha presença.
E explica-se:
- “Eu sou calma, tão menos que a pressa. Tenho os pés no chão, tão mais que a esperança; confio, mas de olhos abertos, tão oposto que a fé, dou um passo de cada vez, mas vivo o hoje, e então, sou muito diferente da loucura. A paixão arde nos olhos, eu, a cautela, brigo com ela para que não ultrapasse a razão”.
A pressa não quis se explicar, e disse que com ela as coisas seriam mais fáceis, mais rápidas, e resolvidas.
A esperança deu as mãos com a fé, e argumentaram: “sem nós, nada seria do amor”.
A loucura grita a paixão alto, e diz que ira acompanha-la sempre. O carinho diz baixinho que esta grudadinho no amor.

E então, depois de tanto, o amor abre a boca.
Diz cuidadosamente as funções dos sentimentos.
E pede muita atenção e calma.
Serenamente, como só o amor sabe falar, respira fundo, e diz:
“Pressa, corra com todas as suas forças até aquele rapaz. Chame a esperança para que ela esteja sempre atenta. Sempre de pé.
Fé, agarre-se a coragem com todas as suas forças, não adianta ser quem és, se não tiver coragem de ser.
Paixão, queime como sempre queimou, sufoque aquela garota, deixando-a sem ar quando ver aquele rapaz. Carinho, não deixe que a paixão se vulgarize, acompanhe-a por onde ela for, deixe que ela adoce a boca daquele rapaz, e ao mesmo tempo o acaricie os cabelos”.

A cautela olhando para o amor, esperou... E esperou.
O amor respirou fundo mais uma vez, e então, como poema recitou algumas palavras:
“Cautela...”.
E ela mal se mexia, esperando...
Mais uma vez o amor respirou fundo e disse: “Ah cautela, se todos os amantes ouvisse um pouco mais de você. Se todos os amantes tivessem um pouco de você em mente!”.

Você estava certa do que dizia!
Eu não quero aparecer mais do que nenhum de vocês meus amigos sentimentos. Nem ao menos quero ter cada um dos poderes que coube somente a vocês. Vocês são como super-heróis em cenário de criança. Eu só havia convocado vocês para essa reunião, porque precisava que vocês me dessem um pouco mais de atenção, preciso somente saber em quais ruas posso andar, que caminhos posso tomar, pois meu único problema é com o medo, que de tanto medo dele, não o convidei. Tenho medo de tropeçar, de cair, medo do sofrimento, que por sinal também não quis sua presença.
Só peço, que assim que puderem, se organizem, e caminhem comigo um de vocês por dia, porque não é segredo para ninguém, que o meu maior problema hoje, é ser cego!